A União Europeia anunciou na quinta-feira uma tentativa de acordo com a China para aliviar as restrições impostas pelo país às exportações de terras raras, que causaram alarme em todo o bloco e ameaçaram paralisar indústrias inteiras.
As restrições rigorosas, que começaram no início de abril no meio de uma disputa comercial com os Estados Unidos, afetaram gravemente o fornecimento mundial de sete elementos de terras raras e de ímanes necessários para os setores da defesa, da energia e automóvel.
“Estes controlos das exportações exerceram uma pressão significativa sobre algumas empresas europeias”, declarou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, na quinta-feira no final de uma cimeira de um dia em Pequim.
“Para manter a confiança nas nossas relações comerciais, precisamos de fornecimentos fiáveis e seguros de matérias-primas essenciais provenientes da China”, adiantou, citada pela EuroNews.
Von der Leyen congratulou-se com os esforços da China para acelerar as licenças de exportação de terras raras e com a criação de um novo sistema para eliminar os obstáculos e os atrasos na cadeia de abastecimento.
“Concordámos, e isto é novo, em ter um mecanismo de fornecimento de exportação melhorado”, afirmou. “Por outras palavras, se houver estrangulamentos, este (sistema) pode verificar e resolver imediatamente o problema ou a questão que existe”.
Ainda assim, von der Leyen insistiu que são necessários muito mais progressos para reequilibrar significativamente as relações comerciais UE-China, que no ano passado registaram um défice de bens superior a EUR 300 mil milhões. Este valor poderá aumentar em 2025 devido à fraca procura por parte dos consumidores chineses e às tarifas proibitivas impostas pelo Presidente dos EUA, Donald Trump.
“Chegámos a um claro ponto de inflexão”, afirmou. “Como dissemos aos líderes chineses, para que o comércio continue a ser mutuamente benéfico, tem de se tornar mais equilibrado. A Europa acolhe bem a concorrência. Mas tem de ser justa”.
Para além das restrições às terras raras, von der Leyen destacou duas áreas em que os progressos são “possíveis e necessários” a curto prazo.
Em primeiro lugar, a exigência de longa data do bloco de garantir um acesso maior e mais livre ao mercado chinês, para igualar o acesso que as empresas chinesas têm na Europa.
Em segundo lugar, a questão da sobrecapacidade industrial, que tem sido associada à utilização pródiga de subsídios por parte de Pequim para impulsionar os produtores nacionais e baixar artificialmente o preço dos seus produtos manufaturados, em detrimento dos concorrentes internacionais.
O conflito chegou ao auge em outubro, quando a UE impôs taxas elevadas aos veículos elétricos fabricados na China para compensar os efeitos dos auxílios estatais. Pequim reagiu com sondagens sobre o brandy, a carne de porco e os produtos lácteos fabricados na UE, que Bruxelas denunciou como injustos e injustificados.
Como se esperava, a cimeira de um dia não conseguiu fazer progressos nestas frentes abertas.
Num tom ameaçador, von der Leyen afirmou que, a menos que a China faça concessões para atenuar o seu excesso de capacidade, “será difícil para a UE manter o seu atual nível de abertura”.
Ao seu lado, António Costa, presidente do Conselho Europeu, também manifestou sérias preocupações sobre a situação desequilibrada do comércio entre a UE e a China.
“Uma relação comercial justa e mutuamente benéfica é possível e deve ser o nosso objetivo comum”, afirmou António Costa, sublinhando a disponibilidade do bloco para encetar um “diálogo aberto e construtivo para encontrar soluções comuns”.
As declarações do governo chinês foram mais animadoras, prometendo “novas oportunidades e potencialidades” nas relações UE-China.
No entanto, as declarações incluíam avisos para dissuadir a Comissão Europeia de aplicar as suas medidas comerciais contra os produtos chineses, como aconteceu no caso dos veículos elétricos e, mais recentemente, dos contratos públicos de aquisição de dispositivos médicos.
“Espera-se que a UE permaneça aberta no mercado do comércio e do investimento, se abstenha de utilizar instrumentos económicos e comerciais restritivos e promova um ambiente empresarial sólido para as empresas chinesas que investem e operam na UE”, afirmou o presidente chinês, Xi Jinping, durante a reunião, de acordo com a leitura do documento.
Xi também criticou a missão do bloco de reduzir as dependências vulneráveis da China, que von der Leyen promoveu como “de-risking” e que o G7 adotou como política oficial.
“O aumento da competitividade não deve assentar na construção de muros ou barreiras, uma vez que a dissociação e o corte das cadeias de abastecimento apenas resultarão em auto-isolamento”, afirmou o líder chinês.