A CaetanoBus, maior fabricante de carroçarias e autocarros em Portugal, avançou com uma aliança com a chinesa CRRC para subcontratação de produção para o segmento dos autocarros urbanos.
No último relatório e contas da casa-mãe, o grupo salienta que, a par de maior permissividade de entrada de pesados chineses no mercado português, os produtos de zero emissões oriundos da China apresentam “vantagens competitivas que vão além do preço, incluindo funcionalidades inovadoras, qualidade, disponibilidade e uma rede de assistência cada vez mais madura e abrangente na Europa”.
Face à “concorrência cada vez mais feroz” dos OEM [Original Equipment Manufacturers] chineses, que fabricam componentes ou produtos que são integrados nos produtos finais de outra empresa, a empresa diz que não lhe restou “alternativa senão adotar uma estratégia de alianças, que favoreça a partilha de custos e de investimentos e o desenvolvimento de novas tecnologias”, segundo o relatório citado pelo site informativo ECO.
A escolhida foi a CRRC, com sede em Pequim e a maior fabricante mundial de material circulante, incluindo autocarros, comboios e componentes, que se tornou conhecida em Portugal com o fornecimento dos novos veículos para o Metro do Porto. E foi já com a nova geração de autocarros elétricos que utilizam “componentes e tecnologia de última geração extremamente fiáveis da CRRC” que a CaetanoBus venceu o último concurso da STCP para a adjudicação de 30 unidades por 11,6 milhões de euros, anunciada na semana passada pela transportadora.
No documento, a empresa detida pela Toyota Caetano Portugal (TCP) e pelos japoneses da Mitsui Group alude a um “processo de reestruturação interna, que implica a redução da atual estrutura de pessoal, com vista à adequação dos recursos às necessidades de produção, à melhoria da produtividade e à diminuição dos custos”. Fechou uma linha de autocarros urbanos e concentrou a produção de modelos de aeroporto e turismo na unidade em Vila Nova de Gaia, tendo transferido os acabamentos finais e o controlo de qualidade do segmento urbano para Ovar.
Fundada em 2002 através de uma parceria com a Daimler-Chrysler — o grupo português ficou com 100% do negócio em 2010, quando adquiriu a quota de 26% aos alemães –, a divisão da TCP especializada em veículos pesados para o transporte coletivo avançou nos últimos meses com um despedimento coletivo.
Com uma participação a rondar os 38%, segundo os últimos dados disponíveis, o conglomerado com sede em Tóquio entrou na empresa no final de 2017, através da compra de uma participação inicial de 15%, justificada na altura pela aposta na mobilidade elétrica. Voltou no último exercício a ser chamado a injetar mais dinheiro, prosseguindo os aportes de capital que já tinham sido realizados pelos acionistas para contrariar os “impactos das adversidades” sentidas pela fabricante, que agora os descreve como um “reforço do seu compromisso com a continuidade da empresa”.
Em dezembro aconteceu um novo aumento de capital de 7,6 milhões de euros por parte da Mitsui, “como resultado de conversão em prestações suplementares de um contrato de suprimentos pelo mesmo montante ocorrido em 2023”, conta no relatório anual da empresa. Ali contabiliza que “entre 2021 e 2023, os acionistas injetaram 37,4 milhões de euros no capital da CaetanoBus, totalizando em 2024 o montante de 45 milhões de euros”.
Já em abril deste ano, o Banco Português de Fomento (BPF) confirmou ter investido EUR 9,94 milhões na CaetanoBus através do Programa de Coinvestimento Deal-by-Deal. Esta operação contou com a participação da Setlima Investimentos, que reforçou a ronda com 4,26 milhões, elevando assim para 14,2 milhões de euros o investimento total na companhia.
A instituição defendeu que este apoio no âmbito do Fundo de Capitalização e Resiliência (FdCR) do PRR vai permitir à CaetanoBus “adaptar as suas linhas de produção às exigências operacionais de novos produtos, em particular a nova geração de autocarros zero emissões, promovendo maior eficiência, crescimento e expansão da sua atividade”.