O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, abriu a porta a renegociar a dívida bilateral com a China, estimada em USD 1,4 mil milhões, e já solicitou um novo programa financiado ao Fundo Monetário Internacional, face às dificuldades financeiras.
“O reescalonamento ou até mesmo o perdão da dívida que temos com o nosso maior credor bilateral (China) não é uma ideia descabida”, afirmou Chapo numa entrevista à Bloomberg.
“Claro, tudo será feito dentro do quadro do acordo existente. Somos um país sério e queremos honrar os nossos compromissos”, adiantou.
Da dívida externa total de Moçambique, USD 9,8 mil milhões, a China detém cerca de 14%, tornando-se o principal alvo de possíveis negociações.
Num cenário de recessão técnica, agravada por protestos violentos na sequência das eleições de Outubro de 2024, o governo admite não só reescalonar a dívida com a China, como até considerar o perdão parcial, desde que dentro do quadro de parceria e respeito mútuo.
Moçambique poderá juntar-se ao grupo de países africanos — como Gana, Zâmbia e Etiópia — que procuram reestruturar os seus encargos financeiros face à crescente pressão das taxas de juro, à diminuição da receita pública e ao impacto de choques sociais e políticos.
O país já enfrentou, segundo o próprio Presidente, “atrasos adicionais no cumprimento das suas obrigações”, atribuídos a restrições de liquidez no início de 2025.
Do total de USD 239,9 milhões previstos em pagamentos de dívida externa este ano, apenas USD 120,8 milhões foram pagos até maio, revelando um cenário de forte tensão fiscal.
A par da reestruturação bilateral, o governo moçambicano solicitou formalmente um novo programa financiado ao FMI, depois de abandonar o anterior no início do ano. Chapo explicou que o acordo anterior “não estava alinhado com a visão da nova administração”, mas que um novo entendimento pode ser alcançado nos próximos meses.
“É necessário. E pelas conversas em curso com o FMI, tudo aponta para que possa ser ainda este ano”, disse o Presidente.
O Fundo Monetário Internacional confirmou que as discussões com a equipa técnica estão em curso, mas alertou que o ambiente social e político fragilizado compromete as perspectivas de crescimento.