A entrada no Brasil de trabalhadores da China mais do que triplicou nos últimos dois anos face a 2022, substituindo a de expatriados americanos e europeus.
Os chineses que obtiveram autorização para viver no país na categoria de expatriados de empresas ascenderam a 7.772 em 2024, segundo um levantamento feito pelo Observatório das Migrações Internacionais, da Universidade de Brasília em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, para a Folha de S. Paulo.
Um em cada cinco vistos para profissionais empregados foi para cidadãos do país asiático, que lidera a lista de registos.
Jonatas Pabis, coordenador-geral de Imigração Laboral da Secretaria Nacional de Justiça, afirmou que no passado o Brasil registava “a chegada do imigrante chinês sem grande formação, aquele que abria o comércio, a pastelaria”, mas “agora quem está a vir são executivos e técnicos com formação especializada, que antes eram, na sua maioria, expatriados americanos e europeus”.
A exportação de mão-de-obra é incentivada por Pequim. Registos oficiais da viagem de Lula ao país em 2009 relatam um pedido do então líder Hu Jintao, antecessor de Xi Jinping, para que o Brasil facilitasse “procedimentos administrativos das aprovações e emissões de visto de trabalho para os funcionários chineses, melhorando mais o ambiente de atração dos investimentos estrangeiros”.
O total de autorizações para chineses em 2024 foi o mais elevado registado por profissionais de uma só origem desde 2013, quando 8.979 norte-americanos levantaram visto de trabalho no Brasil.
Até à década passada, os EUA figuravam como o país que mais exportava mão-de-obra empregada para o Brasil.
No caso dos chineses, existe uma variação de perfil, com profissionais que chegam para trabalhos temporários, especialistas em assistência técnica a indústrias e em transferência de tecnologia, bem como executivos em cargos de chefia de empresas instaladas no Brasil.
A reportagem apurou que 20% a 30% dos funcionários das grandes e médias multinacionais chinesas instaladas no Brasil são “importados”.
“É habitual nas multinacionais asiáticas que o topo da pirâmide seja formado por expatriados”, explica Daniel Lau, conselheiro de empresas chinesas no Brasil.
Desde 2021, mais de 700 executivos chineses chegaram para posições de comando no país, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que divulga os vistos por categoria.
Os dados oficiais apontam que o perfil de trabalhadores especializados na prestação de serviço de assistência técnica foi de maior incidência de registo em 2024. Mais de 4.000 chineses entraram com esta categoria, 57% dos casos.
“Precisamos deste profissional, que tem o conhecimento do produto para fazer a transferência de tecnologia nas nossas fábricas aqui”, afirma Matjaz Cokan, vice presidente de recursos humanos para o mercado da América Latina da Hisense, que produz aparelhos de televisão em Manaus. A empresa tem um plano para expandir os investimentos até 2027.
Dono de uma consultora que presta assistência a grupos chineses, Tian Bin acredita na expansão dos projectos no Brasil nos próximos dois anos. Cita, por exemplo, o desembarque de companhias de telemóveis, automóveis elétricos e tecnologia.
“Participámos na abertura de 50 empresas no Brasil em 2024”, afirma o CEO da IEST, que calcula a existência de cerca de 500 CNPJs de grupos da China registados no Brasil. “Vai crescer mais. No México são 3.000”.
No Brasil, São Paulo, com mais de 3.000, e Bahia, 2.500, foram os que mais receberam expatriados chineses em 2024. Os dois estados tiveram investimentos de fabricantes de automóveis chineses.