Multinacionais chinesas do comércio electrónico como a Meituan, Shein, Temu, Mixue, Didi e TikTok Shop escolheram o Brasil como base de operações na América do Sul.
A crise no setor imobiliário diminuiu o apetite do consumidor chinês, enquanto as tensões comerciais com o Ocidente tornaram mais caro e difícil exportar para os EUA e União Europeia — tradicionalmente os principais destinos das exportações chinesas, obrigando à aposta em novos mercados, segundo uma reportagem do The New York Times.
“As empresas chinesas estão a ter mais dificuldade em crescer a nível doméstico”, explicou Vey-Sern Ling, consultor de ações do banco Union Bancaire Privée, em Singapura. “As exportações e a expansão internacional são uma forma de sustentar o crescimento contínuo.”
A Meituan, líder em entregas de comida na China, anunciou em maio que vai investir USD 1.000 milhões para iniciar as suas atividades no Brasil.
A empresa ficou conhecida pela sua estratégia de preços agressiva e já mostrou a sua capacidade de dominar mercados, como fez com a plataforma Keeta em Hong Kong e na Arábia Saudita e os analistas esperam que repita a fórmula em solo brasileiro: operar com prejuízo no início para conquistar rapidamente quota de mercado.
“Quando as empresas chinesas vão para o estrangeiro, ganhar dinheiro é a prioridade secundária — querem dominar o mercado primeiro”, observou Heatherm Huang, cofundador da Measurable AI.
A Mixue, a maior cadeia de “fast food” do mundo em número de lojas, informou que vai contratar milhares de colaboradores no Brasil.
A TikTok Shop, a plataforma de e-commerce do TikTok, estreou-se no país sul-americano em maio, depois de ter enfrentado restrições nos Estados Unidos e no Reino Unido devido à sua ligação à China.
O movimento chinês coincide com um momento de intensificação das relações bilaterais entre o Brasil e a China.
O comércio entre os dois países praticamente duplicou na última década, com trocas de commodities como a soja e de bens manufaturados como a electrónica e os veículos.
No mês passado, as empresas chinesas anunciaram novos investimentos de cerca de USD 4,7 mil milhões no Brasil, incluindo projetos nas áreas da mineração, energia renovável e indústria automóvel.
O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se reuniu com o homólogo Xi Jinping em Pequim, defendendo uma relação estratégica que sirva de contrapeso à influência dos Estados Unidos.
“A relação entre os dois países é realmente boa, e a expectativa é que assim se mantenha durante um bom tempo”, avaliou Jianggan Li, CEO da consultora singapurense Momentum Works.
A Shein tem três centros de distribuição na região de São Paulo e é uma das líderes no retalho de moda online no país.
A Didi, que comprou a brasileira 99 em 2018, afirmou-se como uma das maiores plataformas de transporte por aplicação.
E a Temu, ligada à gigante Pinduoduo, tem vindo a atrair brasileiros com promessas de descontos até 70% — uma estratégia semelhante à utilizada nos Estados Unidos antes das alterações regulatórias.
Nos EUA, a administração Trump terminou recentemente uma política que permitia a entrada de produtos de baixo valor da China sem impostos, e na União Europeia discute uma medida semelhante.
Já no Brasil, o cenário é ainda mais brando: desde 2023, as compras internacionais abaixo dos 50 dólares passaram a ser taxadas a 20%, uma percentagem ainda muito inferior ao imposto americano atual.