A China está a emergir como destino turístico para os brasileiros, numa altura em que Pequim tem em vigor uma isenção de vistos para brasileiros é válida até maio de 2026.
Inquéritos feitos por plataformas usadas por turistas como a KAYAK, Decolar e Booking.com, registam um aumento de até 200% nas pesquisas pela China.
Hong Kong, Pequim e Xangai surgem entre as cidades mais procuradas, enquanto destinos de natureza como Zhangjiajie também despertam a atenção, sobretudo entre as famílias.
Desde 1 de junho de 2025 que os brasileiros podem entrar na China sem visto para estadias até 30 dias em lazer. Num primeiro momento, esta política estará em vigor até maio de 2026.
Em declarações à CNN Brasil, a agência Mundo Ásia Tours relata que as consultas cresceram de forma notória após a mudança e que, embora as viagens confirmadas ainda estejam a um ritmo lento, há a expectativa de que 2026 represente um ponto de viragem, especialmente se a política for prolongada.
Segundo a agência, citando dados oficiais chineses, há uma estimativa de que pouco mais de 20 mil brasileiros tenham visitado a China em 2019, antes da pandemia. Em 2024, o número era ainda inferior, com cerca de 12 mil visitantes, mas a projeção é que este volume possa duplicar até 2027 se a isenção de vistos se mantiver e a rede aérea for alargada, como é a expectativa.
“Acredito que o interesse advém de uma mistura de curiosidade, exposição mediática, cultura, história, modernidade e tecnologia. O turismo cultural e histórico pesa mais, mas estamos a assistir a um crescimento da procura por experiências modernas, como as vibrações tecnológicas de ponta e urbanas de Xangai e Pequim”, diz Lucas Pham, diretor da Mundo Ásia.
Segundo o profissional, os esforços do governo chinês através da política de vistos e das promoções de propaganda para impulsionar o turismo de receção também contam muito. “Muitos brasileiros mais velhos sempre ouviram falar da China e veem-na como uma fonte de curiosidade, mas antigamente era difícil e menos acessível. Agora está mais ao alcance”, aponta.
Em julho, o Ministério do Turismo e a Embaixada da China no Brasil reforçaram a relação bilateral no turismo com o acordo de desenvolvimento de uma série de ações no sentido de promover os destinos e as culturas de ambos os países.
Entre as ações está a realização do Ano da Cultura Brasil-China, em 2026, além da criação de uma rota turística integrada envolvendo os países dos BRICS e parcerias direcionadas para nichos específicos, como o turismo desportivo.
O comportamento registado nas plataformas de viagens reforça a perceção do aumento do interesse dos brasileiros pela China. Segundo a KAYAK, as pesquisas de voos para Hong Kong aumentaram 205%, para Pequim 188% e para Xangai 121%.
Na Decolar, a procura de bilhetes entre o Brasil e a China cresceu 85% no segundo semestre de 2025, sendo outubro o mês de maior concentração, puxado pela “Semana Dourada”, em outubro.
Já a Booking.com registou um crescimento de 229% nas pesquisas realizadas por brasileiros interessados em alojamento na China para viagens programadas entre 11 de setembro de 2025 e 11 de março de 2026, com destaque para Xangai, Pequim, Cantão e Chongqing.
O caso de Zhangjiajie chama a atenção: entre famílias, as buscas pelo destino saltaram mais de 1000%, sinalizando que a paisagem natural que inspirou o filme “Avatar” pode tornar-se uma nova porta de entrada no imaginário do turista brasileiro.
Apesar do entusiasmo, o passo da concretização da viagem ainda encontra entraves significativos. Segundo a Mundo Ásia, o preço dos bilhetes de avião continua a ser o mais elevado deles: os bilhetes entre o Brasil e a China, em classe económica, variam geralmente entre os 8 mil e os 25 mil reais, embora as promoções pontuais indiquem valores mais baixos.
“No entanto, a China está a acrescentar mais voos para as Américas, como o direto para o México em julho e planeado para a Argentina em dezembro, sendo a rota mais longa do mundo. Esperamos que um voo direto entre a China e o Brasil possa acontecer em breve, talvez em 2026, facilitando ainda mais”, sublinha Pham.
A barreira linguística também pesa, uma vez que, fora dos grandes centros turísticos, o inglês é pouco falado. Além disso, a conectividade digital continua limitada, com aplicações de comunicação como o WhatsApp, Instagram e Facebook bloqueadas no país, o que obriga o viajante a preparar-se com outras alternativas.
O sistema de pagamentos, apesar de ter avançado com a aceitação de cartões internacionais nas plataformas, ainda exige adaptação. Por fim, há o fator logístico: a China é um país de dimensões continentais e as deslocações internas.