O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, vai apresentar à China uma proposta de criação de um sistema de pagamentos alternativo ao dólar nas transacções internacionais entre países BRICS.
A agenda será apresentada ao Presidente chinês Xi Jinping numa reunião marcada para o dia 12 de maio, segundo informações do jornal O Globo.
A iniciativa surge no meio de um novo ciclo de tensões económicas lideradas pelos Estados Unidos, que têm ameaçado adotar medidas económicas punitivas contra os países que avancem com propostas para reduzir a dependência do dólar nas operações comerciais internacionais.
De acordo com interlocutores do governo brasileiro, o objetivo da proposta é ampliar a eficiência e reduzir custos nas operações financeiras dentro dos BRICS, sem intenção de confrontar diretamente os Estados Unidos.
A criação de um sistema próprio, baseado em tecnologias como a blockchain, será também discutida na reunião de ministros das Finanças do grupo, que antecede a cimeira de chefes de Estado marcada para julho, no Rio de Janeiro.
O bloco BRICS — formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — passou a contar este ano com seis novos membros: Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia, Irão e Indonésia.
O alargamento do grupo reforça a intenção dos países membros de ampliar a capacidade de negociação no panorama económico global.
As autoridades do Governo brasileiro negam que haja intenção de propor uma moeda comum ou de lançar medidas que comprometam as relações com Washington.
A proposta em discussão inclui mecanismos de compensação financeira que poderiam reduzir as barreiras operacionais e comerciais entre os membros do bloco, sem envolver a substituição direta do dólar em operações com países fora do grupo.
Durante a visita à China, Lula estará acompanhado por representantes da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), num esforço diplomático para aproximar as agendas da América Latina e da Ásia. A comitiva deverá realizar reuniões com as autoridades chinesas sobre temas relacionados com o comércio, investimentos e cooperação multilateral.
O encontro entre Lula e Xi Jinping será o segundo no atual mandato do presidente brasileiro. O primeiro ocorreu em abril de 2023, quando os dois líderes assinaram acordos comerciais e discutiram propostas para o reforço da relação bilateral.
A nova reunião deverá alargar o âmbito da cooperação, incluindo temas financeiros, geopolíticos e ambientais.
Além da agenda do sistema de pagamentos, o tema da cibersegurança nas operações financeiras deverá também ser incluído nas discussões preparatórias da cimeira.
O Governo brasileiro considera que um sistema de pagamentos alternativo pode fortalecer a soberania económica dos países membros do grupo, ampliar o acesso aos mercados financeiros e mitigar os riscos cambiais em períodos de instabilidade.