O Brasil tem as segundas maiores reserva de terras raras do mundo, apenas atrás da China, mas ainda está longe de explorar plenamente o seu potencial.
Uma boa parte das terras raras extraídas no país continua a ser exportada em estado bruto, sem processamento ou agregação de valor, de acordo com uma investigação da Globo1.
A China domina a refinação dos minerais e os Estados Unidos pressionam para o acesso a fontes alternativas, visando o subsolo brasileiro.
Na última semana, o encarregado de negócios da embaixada norte-americana, Gabriel Escobar, reafirmou numa reunião com empresários o interesse direto de Washington nos minerais críticos e estratégicos brasileiros — como as terras raras, o lítio, o nióbio e o cobre.
As terras raras formam um grupo de 17 elementos químicos encontrados na natureza, geralmente misturados com outros minérios e de difícil extração. Apesar do nome, não são necessariamente raros — mas são difíceis de isolar em elevada pureza, o que torna o processo dispendioso e complexo.
Estes minérios são indispensáveis para a produção, por exemplo, de turbinas eólicas, motores de carros elétricos, chips de computadores e telemóveis, equipamentos médicos de ponta, satélites, foguetes e mísseis e dispositivos eletrónicos de última geração.
Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, o Brasil possui cerca de 21 milhões de toneladas de terras raras — o que o coloca como o 2º maior detentor global, apenas atrás da China, que além de ter reservas, domina a tecnologia de processamento e refinação.
“A China tomou uma decisão estratégica há décadas: dominar toda a cadeia de produção das terras raras. É isso que falta ao Brasil”, diz Fernando Landgraf, professor da Escola Politécnica da USP, citado pela Globo1.
Hoje, o Brasil exporta sobretudo matéria-prima em bruto. Sem tecnologia de refinação instalada à escala industrial, o país perde valor ao longo da cadeia e mantém-se como fornecedor periférico, mesmo perante a crescente procura global.
O Ministério das Minas e Energia reconhece o desafio, mas vê uma hipótese histórica. Em comunicado ao Globo1, a pasta afirmou que o Brasil tem “uma janela de oportunidade para desenvolver uma robusta indústria de processamento de terras raras”, aproveitando energia limpa e competitiva, estabilidade territorial e conhecimento acumulado.
Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento Industrial do Ministério do Desenvolvimento, também aponta os obstáculos: “É melhor produzir o processado, claro. Mas há desafios tecnológicos, de escala de produção e de competitividade.”
O governo federal e as entidades do setor mineral têm articulado iniciativas para desenvolver tecnologia nacional, atrair investimento e montar uma cadeia de produção no país.
O Projeto MagBras, liderado pelo SENAI, visa desenvolver uma cadeia nacional de produção de ímanes permanentes de neodímio-ferro-boro (NdFeB), com utilização em carros elétricos e energia limpa.
Está ainda a ser composto um fundo de mil milhões de dólares para financiar projetos de pesquisa mineral, com foco em empresas juniores; e obrigações incentivadas, autorizadas por decreto de 2023, para projetos de minerais estratégicos.
Há também um apelo pública de 5 mil milhões de reais, lançada pelo BNDES, FINEP e MME, para apoiar a industrialização mineral e implementar plantas industriais no país e um mapeamentos em curso pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB), que incluem áreas como a Bacia do Parnaíba, no Piauí, e resíduos de mineração com potencial para reutilização.